Grupo desmantelado em Venâncio Aires movimentava R$ 100 mil em bebidas ilegalmente por dia; dois empresários e líder da organização estão entre os presos

O grupo criminoso é investigado por crimes como descaminho e lavagem de dinheiro

Atualizada às 10h30

A Polícia Civil e a Polícia Federal já apresentaram alguns números da operação Afluência, deflagrada na manhã desta quinta-feira, 30, em Venâncio Aires e outros oito municípios gaúchos, além de cidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

A reportagem da RVA acompanhou o trabalho policial desde às 6h da manhã, quando os mandados de prisão e busca e apreensão começaram a ser cumpridos. O grupo criminoso é investigado por crimes como descaminho e lavagem de dinheiro.

Em Venâncio Aires, foram cumpridos quatro mandados de prisão. Em uma residência no bairro Santa Tecla, foi preso um empresário do ramo da construção civil. No centro foi preso um proprietário de uma revenda de veículos. No município de Arroio do Sal, foi detido outro venâncio-airense, que teria envolvimento com o ramo de cigarros e, um outro indivíduo, que seria braço-direito do líder do grupo, é procurado. Já a principal liderança da organização, que operava o esquema de bebidas, natural de Cruzeiro do Sul, foi preso em Belo Horizonte, em Minas Gerais. Todos os presos estão sendo levados à sede da Polícia Federal, em Santa Cruz do Sul.

Em um endereço no bairro Santa Tecla, próximo ao Corredor dos Gauer, onde foi cumprido um mandado de prisão, foram apreendidos R$ 173 mil em dinheiro vivo, além de mais de R$ 500 mil em cheques. A reportagem da RVA também apurou que foi cumprido um mandado de busca e apreensão em um endereço na rua 15 de Novembro, no centro. No local, existe uma residência, mas constava como endereço de uma empresa “laranja” com ligação com o grupo. Um empresário foi detido durante o cumprimento do mandado com uma arma e, por isso, também foi encaminhado à Polícia Federal, em Santa Cruz do Sul.

Para a desarticular o grupo, são executados 50 mandados de busca e apreensão, cinco de prisão preventiva, 22 medidas cautelares substitutivas de prisão, além de decretos judiciais de arresto/sequestro de 133 veículos e 30 imóveis (bens avaliados em aproximadamente R$ 20 milhões) e o bloqueio de valores depositados em contas dos investigados e de empresas.

Segundo a PF, o núcleo central da organização criminosa encontra-se estabelecido na região do Vale do Taquari, possuindo como principal atividade ilícita o descaminho de bebidas destiladas e vinhos, introduzidos ilegalmente em território nacional através das fronteiras com a Argentina (vinhos) e Uruguai (destilados).

O grupo criminoso contava com a participação de fornecedores e intermediários para aquisição dos produtos diretamente com os proprietários de free shops uruguaios ou das lojas de vinhos argentinas. O pagamento era realizado de forma “física” (transposição física, pela fronteira, do dinheiro) ou através da utilização de “doleiros”.

Após ingressarem em território nacional, as bebidas eram transportadas aos depósitos do grupo criminoso e posteriormente remetidas a grandes atacados estabelecidos nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. As cargas de bebidas eram transportadas em veículos próprios da organização, especialmente carretas e caminhões, acondicionadas sob outros produtos como grãos e frutas. Outra forma de envio das mercadorias ocorria por meio de empresas transportadoras com utilização de notas fiscais ideologicamente falsas, emitidas por empresa ligadas ao grupo, para “acobertar” a carga de bebida remetida.

Para receber os valores pela venda das mercadorias, a organização criminosa valia-se de contas tituladas por dezenas de pessoas físicas e jurídicas (“laranjas”) como concessionárias e locadoras de veículos, construtoras, postos de combustíveis e do ramo de cigarros. Os proprietários destas empresas, “misturavam” os recursos ilícitos, mesclando-os, com recursos de origem legítima de suas empresas.

A investigação indica que o grupo criminoso age de forma estruturada, ao menos, desde janeiro de 2019, tendo movimentado mais de R$ 62 milhões com a venda de bebidas alcoólicas ilicitamente introduzidas em território brasileiro.

O nome da operação “Afluência” refere ao estado de quem expressa riqueza (sinais de riqueza exteriores dos principais investigados). Também está relacionado ao excesso de movimentação de pessoas ou de coisas que se direcionam para o mesmo local, no caso, a utilização de contas bancárias de terceiros e outorga de procurações, “movimentos” que convergem para uma mesma pessoa (alvo principal). Assim, tem-se a “Afluência” de capitais.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

The reCAPTCHA verification period has expired. Please reload the page.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

error: Recurso desabilitado