Município de Sério busca se consolidar como polo produtor de pitaya

Fruta é vendida in natura, mas também por meio de produtos derivados, como geleias, vinhos e refrigerantes, além de políticas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae)

“Lembro que eu nunca sequer tinha ouvido falar da palavra pitaya”. Quem ouve a bem elaborada explicação do agricultor Nilo Pedro Ariotti, da localidade de Paredão, em Sério, a respeito do manejo e dos cuidados necessários com essa fruta de aparência exótica e de sabor adocicado, mal imagina que oito anos atrás ela era uma completa desconhecida. Bovinocultor de leite e avicultor há décadas, Ariotti estava acostumado à lida com os animais – que integram, ao lado da suinocultura, a trinca tradicional de matrizes produtivas de pequenos municípios da região – quando ouviu falar dessa novidade.

Em 2017 a pitaya talvez não tivesse o apelo e a procura por parte dos consumidores como nos dias de hoje. E, para os agricultores, havia a chance de ela não passar de mera excentricidade procurada pelo povo da cidade. Só que quando Paulinho Aroldi, vice-prefeito à época, retornou de uma viagem turística, ele estava maravilhado. O que o fez fazer um apaixonado relato sobre toda a beleza que envolvia a pitaya, com seu contraste entre a rusticidade da planta e a delicadeza de sua polpa, que se unia ao curioso manejo, com polinização noturna. “Lembro que fiquei com aquilo na cabeça, uma ideia meio fixa”, recorda Nilo.

E foi após um dia de trabalho que resolveu entrar na internet para pesquisar. “Joguei na busca a palavra pitaya e aquilo foi meio revelador”, lembra. “Foi de encher os olhos assistir aquelas imagens de plantações bem organizadas, distribuídas com o alinhamento correto, com os galhos espinhosos agarrando uns frutos grandes”, rememora. Era o estímulo que faltava para a ideia de investir. À época, foi o próprio Aroldi, o vice-prefeito, que tratou de organizar um grupo de agricultores interessados, que inicialmente envolveu sete famílias. Um trabalho incipiente, que agora começa literalmente a dar frutos.

Nesse sentido, Nilo elogia os esforços da Prefeitura e da Emater/RS-Ascar, não apenas em promover encontros e viagens para trocas de experiências com outros produtores, mas por facilitar, com políticas públicas próprias, a compra de mudas e o apoio técnico. “Atualmente são cerca de seis hectares plantados no município com produtividade variada, especialmente pelo seu ciclo curto, que depende em alguma medida do clima”, explica o extensionista da Emater/RS-Ascar Francis Copetti. No caso de Nilo, são 2.400 pés distribuídos em uma área próxima de um hectare, bem na entrada da propriedade.

Neste começo de ano, foi justamente o clima que tornou o trabalho do agricultor mais complicado, especialmente após as chuvas torrenciais que caíram em janeiro. “Havia feito a coleta do material para polinização e o temporal me fez perder 20 mil flores, porque simplesmente não conseguia trabalhar”, lembra, explicando que isso o fez perder algo em torno de dez toneladas do fruto. Mas as complexidades do manejo e as eventuais exigências nesse sentido, não desanimam o produtor. Aliás, nunca desanimaram. “Quando soube que a florada era de dezembro a abril, me agradou a ideia de trabalhar à noite, com clima mais ameno”, pontua.

Tanto que o prazer do trabalho o fez aumentar o pomar, que tem mercado garantido não apenas no comércio in natura, mas também por meio de produtos derivados, como geleias, vinhos e refrigerantes, além de políticas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Para a segunda edição da Feira da Pitaya, que ocorre entre os dias 07 e 10 de março deste ano, no município, uma parceria com a Unisinos apresentará o refrigerante da fruta como uma novidade. “Na realidade sempre pensamos na agregação de valor como um caminho para além da empolgação inicial, advinda do valor pago pelo fruto”, analisa Nilo.

“Sempre será necessário observar se as variedades escolhidas se adaptam ao clima local, se há demanda e outros aspectos, antes de fazer o investimento”, comenta o extensionista da Emater/RS-Ascar Marcos Schafer. Para Nilo, a fase de as pessoas estarem comprando por mera curiosidade talvez já esteja passando. A estabilidade do preço também parece ajudar, quando há mais agricultores ligados ao cultivo – na fase produtiva é possível encontrar o fruto com preços que variam de R$ 12 a R$ 20. O quilo. “É uma planta bonita também do ponto de vista turístico, além de ser muito saudável”, destaca a extensionista da Emater/RS-Ascar Josiane Bianchi.

Atenta a todos esses aspectos, a empreendedora Eliani Zimmer também levará novidades para a Feira da Pitaya. Responsável pela agroindústria familiar Delícias Coloniais, produz há cerca de um ano e meio geleias de frutas, como figo, uva, pêssego, morango e misturas, como abacaxi com banana. Para os dias da festividade, o consumidor encontrará variedades que envolvem pitaya em sua composição, com misturas com banana, abacaxi, pera, pêssego e outros. Perguntada sobre o processo de elaboração, Eliani sorri: “olha, foi muita tentativa e erro até acertar o ponto certo”, diz.

O caso é que não parece ser muito fácil fazer geleia de pitaya, mas Eliani se dasafiou. “A cada tentativa solicitava um parecer a amigos, vizinhos e parentes”, argumenta. Nos testes, problemas de consistências, excesso de fiapos, doçura excessiva e outros foram encontrados. Mas a empreendedora foi insistente, o que possibilitará ao público encontrar a melhor versão das geleias de pitaya, que é adquirida do próprio Nilo, para os dias da feira. “A minha expectativa é a melhor possível e estaremos prontos pra receber o público da melhor maneira”, completa Eliani.

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